QUANTO
VALE OU É POR QUILO? (Sérgio Bianchi).
Trata-se de um filme inovador, misto de documentário e ficção, que
retrata as mazelas e contradições de um país em permanente crise
de valores e revela que a escravidão não acabou em nossa história:
apenas deixou de ser explícita. A “exclusão social” é seu
sinônimo velado. O filme desenha um painel de duas épocas
aparentemente distintas, mas, no fundo, semelhantes na manutenção
de uma perversa dinâmica sócio-econômica, embalada pela corrupção
impune, pela violência e pelas enormes diferenças sociais. No
Século XVIII, época da escravidão explícita, os capitães do mato
caçavam negros para vendê-los aos senhores de terra com um único
objetivo: o lucro. Nos dias atuais, o chamado Terceiro Setor explora
a miséria, preenchendo a ausência do Estado em atividades
assistenciais, que na verdade também são fontes de muito lucro. Com
humor afinado, o filme mostra que o tempo passa e nada muda. A
crítica às milhares de entidades assistenciais, ONGs e associações
espalhadas por todo o Brasil é muito forte. De acordo com o filme,
com o que essas associações gastam em aluguel, manutenção das
propriedades, taxas municipais, estaduais e federais, montagem de
escritórios, salários de pessoal, viagens de avião, computadores,
diárias de hotéis, contas de restaurantes, táxis, mídia,
propaganda, jingles e agências de publicidade, seria possível, se
não solucionar definitivamente, ao menos resolver em boa parte os
problemas para os quais foram criadas. Entretanto, esse dinheiro só
serve para promover reuniões, debates, congressos e transformar os
excluídos em meros dados cadastrais ou números estatísticos e nada
mais. O que vale é ter liberdade pra consumir. Essa é a verdadeira
funcionalidade da democracia, segundo o filme. A regra econômica e
as relações econômicas prevalecem sobre qualquer tipo de relação
humana e estão acima do ser humano. É triste perceber, ainda, que
os excluídos não conseguem encontrar formas não violentas para
superar a situação, apelando, frequentemente, para a reação
violenta contra os privilegiados, gerando um ciclo de violências sem
fim que simplesmente não resolve nada, só piora as coisas.
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