sábado, 23 de novembro de 2013

QUANTO VALE OU É POR QUILO? (Sérgio Bianchi). Trata-se de um filme inovador, misto de documentário e ficção, que retrata as mazelas e contradições de um país em permanente crise de valores e revela que a escravidão não acabou em nossa história: apenas deixou de ser explícita. A “exclusão social” é seu sinônimo velado. O filme desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas, no fundo, semelhantes na manutenção de uma perversa dinâmica sócio-econômica, embalada pela corrupção impune, pela violência e pelas enormes diferenças sociais. No Século XVIII, época da escravidão explícita, os capitães do mato caçavam negros para vendê-los aos senhores de terra com um único objetivo: o lucro. Nos dias atuais, o chamado Terceiro Setor explora a miséria, preenchendo a ausência do Estado em atividades assistenciais, que na verdade também são fontes de muito lucro. Com humor afinado, o filme mostra que o tempo passa e nada muda. A crítica às milhares de entidades assistenciais, ONGs e associações espalhadas por todo o Brasil é muito forte. De acordo com o filme, com o que essas associações gastam em aluguel, manutenção das propriedades, taxas municipais, estaduais e federais, montagem de escritórios, salários de pessoal, viagens de avião, computadores, diárias de hotéis, contas de restaurantes, táxis, mídia, propaganda, jingles e agências de publicidade, seria possível, se não solucionar definitivamente, ao menos resolver em boa parte os problemas para os quais foram criadas. Entretanto, esse dinheiro só serve para promover reuniões, debates, congressos e transformar os excluídos em meros dados cadastrais ou números estatísticos e nada mais. O que vale é ter liberdade pra consumir. Essa é a verdadeira funcionalidade da democracia, segundo o filme. A regra econômica e as relações econômicas prevalecem sobre qualquer tipo de relação humana e estão acima do ser humano. É triste perceber, ainda, que os excluídos não conseguem encontrar formas não violentas para superar a situação, apelando, frequentemente, para a reação violenta contra os privilegiados, gerando um ciclo de violências sem fim que simplesmente não resolve nada, só piora as coisas.

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